Família Sanglard, os caçadores de javali - Última parte

quinta-feira, 25 de julho de 2019

No artigo da semana passada apresentei a família de imigrantes suíços, os Sanglard, cujo patriarca de nome Mathieu era fabricante de cerâmica. Figurando na lista de indigentes resolveu emigrar com a esposa e quatro filhos para o Brasil. No livro “Família Sanglard, Suíça-Brasil”, de Pedro Elias Erthal Sanglard, observamos que os membros dessa família foram agricultores, tropeiros e comerciantes. A data de terras que coube aos Sanglard se situava onde hoje é a localidade de Stucky, no distrito de Mury.

Os Sanglard dividiram essa propriedade com mais duas outras famílias de imigrantes. De acordo com pesquisador Pedro Elias Erthal Sanglard, já em 1822, a família Sanglard deixa o lote de terras por ser montanhoso e muito pedregoso e vai para os Inhames, em Macaé de Cima. No ano seguinte, renunciaram junto a administração da Colônia a propriedade dos Inhames em razão de sua pouca extensão e solicitaram 3.600 metros de terras devolutas, ainda em Macaé de Cima, sendo o pedido deferido pelo inspetor da colônia.

Terras devolutas eram áreas abandonadas que retornam para a propriedade do governo. A posse de um ano da terra devoluta, somado a comprovação de se ter dado destino útil à propriedade, ou seja, ter plantações, e finalmente, não haver oposição de terceiros, dava pleno direito de propriedade sobre a terra. Com o fim da lei de concessão de sesmarias em 1822, a partir de então foi iniciada a era do posseiro, que se estendeu até 1850, com a Lei de Terras.

Em 1835, a matriarca da família, Thérèse Fegatte, requereu à Câmara Municipal a chácara de número 25. Essas chácaras eram terrenos provisoriamente concedidos pela administração colonial aos portugueses que vieram para a região com a notícia da instalação da colônia de suíços. Em 1854, a família Sanglard se dirigiu para a Freguesia de São José do Ribeirão, pertencente ao Termo de Nova Friburgo e hoje distrito de Bom Jardim.

Um dos filhos do patriarca, François Sanglard, se tornou comerciante e adquiriu a Fazenda Santa Angélica da Pedra Branca nessa mesma freguesia. Quatro anos depois de instalado, juntamente com outros indivíduos, criou a Sociedade Fundadora de São José do Ribeirão. Eles objetivavam a venda, o arrendamento e o aforamento da sesmaria de São Simplício, comprada de Elias José Caetano.

Essa sesmaria fora requerida por João Luís Ribeiro, em 1802, em cuja área foi fundada a Freguesia de São José do Ribeirão. Outro dos filhos do patriarca, Conrad Sanglard, se dirigiu para a próspera Cantagalo e lá possuiu tropas de mulas, atividade econômica que demonstrou ser ele um homem morigerado. A família fez uso da mão-de-obra escrava, pois no ano de 1867, dois filhos de François Sanglard, acompanhados de quatro escravos, partira para a província de Minas Gerais.

Observando a trajetória dos Sanglard, assim como dos Monnerat, Lemgruber e Lutterbach, para ficar em apenas alguns exemplos, percebemos que logo na segunda geração eram famílias ricas e de cabedal. Acumularam renda fazendo uso do benefício jurídico da posse e através de casamentos consanguíneos e interfamiliares, garantindo assim o aumento do patrimônio.

Para manter a memória da família foi criada no distrito de Amparo a Associação Mathieu Sanglard, em homenagem ao patriarca, com o objetivo de congregar os membros da família domiciliados em diversas cidades do país e realizar encontros anuais. O casal João Frossard e Maria Theresa Sanglard doou um terreno para ser construída a futura sede da associação. Com o produto da venda do terreno doado foi adquirida a antiga sede da Fazenda Samambaia pertencente à família.

Existia na propriedade o terreiro de café e ruínas do moinho de fubá. Na sede social da Associação Mathieu Sanglard foi inaugurado o Centro de Memória, com acervo de instrumentos de trabalho, entre outros objetos. Foi igualmente construída uma raia de malha e anualmente são realizadas festas julinas, “O Arraiá dus Sangrá”.

Desde 1993 são organizados encontros anuais dos Sanglard, realizados em Nova Friburgo. O bairro Rui Sanglard, igualmente conhecido como “Morro do Rui”, surgiu do loteamento feito por Ruy Osório Sanglard, nascido em 1910, e descendente do patriarca Mathieu Sanglard. O pesquisador Pedro Elias Erthal Sanglard garantiu o registro histórico da família, desde a chegada dos pioneiros, com o livro “Família Sanglard, Suíça-Brasil”, que está disponibilizado na internet. Existe também o site da associação na internet: www.associacaomathieusanglard.com.br e o blog livrofamiliasanglard.blogspot.com.

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    Em Amparo, a Associação Mathieu Sanglard, em homenagem ao patriarca

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    João Frossard Sanglard na Fazenda Velha

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    Pedro Erthal Sanglard garantiu o registro histórico da família no livro Família Sanglard, Suíça-Brasil

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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