A Família Erthal - O café tem praga de escravo e capa de velhaco

quinta-feira, 02 de novembro de 2017

Última parte

Para o plantio do café uma larga extensão da mata virgem foi derrubada no Norte fluminense. Plantadas as mudas, no fim do terceiro ano, os novos cafeeiros produziam frutos, atingindo plena produção no sexto ano. No século 19, calculava-se entre 25 e 40 anos a duração de um cafeeiro produtivo. No entanto, alguns afirmavam que o cafeeiro pouco produzia com mais de 20 anos. Mas atualmente, com novas técnicas, como a poda dos pés de café denominada de esqueletamento, e com a adubagem da terra, os cafeeiros atingem maior longevidade.

Uma das razões para o declínio da produção de café nas fazendas do Centro-Norte fluminense foi a falta de adubagem da terra. Com cafeeiros decrépitos e a desorganização do trabalho provocada pelo fim da escravidão a falência dos barões do café, a exemplo do Barão de Cantagalo e do Barão de Nova Friburgo foi inexorável. Sabe-se que no momento de dificuldade financeira desses barões, os Monnerat, assim como os Wermelinger, arremataram muitas dessas propriedades em leilões judiciais. Teriam os Erthal feito o mesmo? Possivelmente sim.

De todos os municípios que fizeram parte da magna Cantagalo no século 19, e se emanciparam, o único que permaneceu plantando café em larga escala foi Bom Jardim. No caso, por uma única empresa: a da família Erthal que exporta café para o Japão, Alemanha e Estados Unidos, esse último o maior consumidor e comprador de café no mundo. O Brasil é o segundo maior consumidor mundial, e por isso, os Erhtal igualmente se ocupam do mercado interno, produzindo o café Bonjardinense.

No entanto, o café de montanha fluminense está em vias de extinção. Essa geração dos Erthal possivelmente será a última a produzi-lo. Isso se deve a impossibilidade de concorrer com o café que é plantado nos vales e que permite a mecanização, tornando-se mais barato no mercado. O barro dos morros é ideal para o cultivo do café, mas a sua geografia montanhosa não permite a completa mecanização, a não ser o uso de braçadeiras para a sua colheita.Com isso, o preço do café de montanha se torna mais caro. Quando o trabalho era manual utilizando escravos e depois colonos europeus, o plantio do café era viável. Mas a tendência é a sua completa extinção das terras fluminenses. Além do mais, o café é uma das commodities mais especuladas no mercado internacional, se concentrando nas mãos de cinco grandes empresas.

No passado, eram os comissários de café que o comercializava. Os fazendeiros ficavam na dependência deles principalmente para conseguir capital para a compra de escravos. Na realidade, era um negócio muito mais lucrativo a comercialização do que a produção do café. Por isso, o Barão de Nova Friburgo, assim os Monnerat e os Lutterbach possuíam empresas de comercialização desse produto, com escritório no Rio de Janeiro.

Aloísio Erthal, trineto do patriarca e colono alemão Joseph Erthal, que chegou a Nova Friburgo em 1824, tem uma frase emblemática: “O café tem praga de escravo e capa de velhaco”. Praga de escravo devido a exploração em nossa história de homens, mulheres e crianças trazidos do continente africano para trabalhar nas lavouras de café. Capa de velhaco, pelos motivos acima expostos, ou seja, os cafeicultores no passado ficavam nas mãos dos comissários de café. Como disse Miguel Erthal, o café está descendo a montanha e no futuro, infelizmente, não avistaremos mais nos morros de Bom Jardim as belíssimas plantações de café. 

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    Não avistaremos mais nos morros de Bom Jardim as plantações de café

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    Ditado antigo, o café tem praga de escravo e capa de velhaco

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    Aloísio Erthal e sua esposa Maria das Dores Monnerat Erthal

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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