Colégio Nova Friburgo: virtude, saúde e saber – Última parte

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Passaram pelo Colégio Nova Friburgo aproximadamente 3.500 alunos nos seus vinte sete anos de existência. Na década de 80 houve uma verdadeira debandada de alunos dos colégios religiosos para estudar na “Fundação”. Todos desejavam beber da fonte daqueles anos de sua belle époque, mas os tempos eram outros. O padrão de ensino já era semelhante aos demais colégios, não se destacando como outrora. De qualquer forma, todos queriam sentir aquele ambiente colegial no qual passou uma geração que foi trabalhada para ser a liderança do país.

O curioso é que procuravam imitar o comportamento dos primeiros “cenefistas”, adotando uma atitude rebelde que já não chamava mais a atenção da população como foi a geração beatnik que se espelhava em Jack Kerouac. De acordo com Joaquim Trotta, o declínio do Colégio Nova Friburgo teve início na década de 70, provocado pelo regime militar iniciado em 1964, que tomou o governo em um golpe de Estado, instituindo a ditadura no país. O que ilustra bem que havia uma clara intenção do governo militar em acabar com o Colégio Nova Friburgo foi notadamente o corte de verbas que permitiam a manutenção de sua cara estrutura. Na década de 70, o livro de Trotta “Atividades Extraclasse e Liderança” foi rejeitado pela comissão que selecionava os livros para o acervo da biblioteca, não aprovando a inclusão dessa obra. Trata-se de um livro que documenta 40 atividades extracurriculares que funcionaram no colégio, mais precisamente no período de 1954 a 1957. Cada um deles tinha uma diretoria composta por alunos eleitos democraticamente entre os seus membros. Nada disso poderia ser conhecido pelas novas gerações. Para os paradigmas dos militares, era um material subversivo.

O ex-professor Paulo Jordão Bastos se recorda dos militares entrando no colégio para interrogar os filhos do político Miguel Arraes, acusado de subversão contra o governo. Jordão Bastos estava incluído na lista, como outros professores do colégio, como comunista. Segundo ele, nunca teve militância política nesse partido. Mas o Colégio Nova Friburgo com a sua pedagogia libertária dificilmente escaparia da caça às bruxas do governo militar. O Centro Pedagógico sofreu um processo de declínio e os pedidos de estágio de professores de outras partes do país vinham diminuindo. No segundo semestre de 1976, não havia candidatos. Simões Lopes não se manifestou nessas intervenções. Terminou sua vida fazendo carreira em diversos órgãos do governo. Como diretor da Sociedade Nacional de Agricultura promoveu intenso combate às propostas de reforma agrária. Faleceu em 1994.

O colégio foi desativado em 1977 e os ex-alunos criaram uma associação que lhes permite fazerem encontros periódicos e igualmente um Centro de Memória inaugurado em novembro de 1987, nas instalações do antigo colégio. Criaram também a Fundação Natureza que objetivava reativar o colégio transformando-o em uma escola ambiental que seria denominada de Escola Ambiental de Nova Friburgo. Formaria ambientalistas de nível médio técnico e superior de acordo com o programa da Unesco, podendo haver inclusive programas de pós-graduação. Mas esse projeto não foi adiante por receio de empresários locais dos ambientalistas criarem obstáculos ao crescimento urbano do município. Houve duas tentativas de ocupação do prédio, uma pelo Instituto Politécnico seguida pela graduação e pós-graduação do curso de engenharia da Uerj. No entanto, a tragédia climática de 2011 inviabilizou completamente a permanência da Uerj nesse prédio.

O que fazer com as instalações da Fundação Getúlio Vargas em Nova Friburgo virou uma “batata quente” para essa instituição. Enquanto isso, assistimos à sua ruína. Lembrando que, na compra do Parque do Cascata e do cassino, a Prefeitura entrou com CR$2.000.000,00 (dois milhões de cruzeiros); uma subscrição realizada entre a população friburguense arrecadou CR$1.000.000,00 (um milhão de cruzeiros) e foi feito um empréstimo junto a Caixa Econômica de CR$2.5000.000,00 (dois milhões e quinhentos mil cruzeiros) pagos pelos cofres públicos. A Fundação Getúlio Vargas entrou somente com CR$500.000,00 (quinhentos mil cruzeiros). Não seria o caso desse patrimônio pertencer ao patrimônio municipal? 

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    Alunos da década de oitenta adotam uma atitude rebelde copiando a geração beatnik

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    Passaram pelo Colégio Nova Friburgo 3.500 alunos nos seus vinte sete anos de existência

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    Silvério Ortiz comanda a bateria com o seu tradicional charuto

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Janaína Botelho

Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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