Carlos Eboli—um nome para não ser esquecido

sexta-feira, 29 de junho de 2012

Carlos Eboli é nome de rua em Nova Friburgo, e só. No entanto, se formos observar o legado que deixou no município, mereceria um preito maior. Natural de Nápolis, Carlos Eboli nasceu em 1832 e formou-se em medicina pela Faculdade de Paris, em 1856, chegando ao Brasil na segunda metade do século XIX. Médico higienista, era membro correspondente da Imperial Academia de Medicina. Provavelmente pela fama da salubridade de seu clima, escolheu Nova Friburgo para um projeto de vida: a construção do Instituto Sanitário Hidroterápico. Nova Friburgo possuía notoriedade nacional sobre as vantagens de seu clima na cura de diversas doenças, principalmente a tuberculose. É significativo que no século XIX, o vereador Galiano das Neves declarou em ata da Câmara que o estabelecimento hidroterápico atraía grande número de famílias e concorria para o progresso de Nova Friburgo. Em 1885, a Câmara oficiou ao chefe de tráfego da Estrada de Ferro de Cantagalo, solicitando que as locomotivas não apitassem dentro da Vila, por incomodar aos moradores, especialmente as pessoas que vinham tratar-se.

Logo que chegou a Nova Friburgo, Carlos Eboli, impelido pelo zelo e interesse pela bela vila em que residia, adotou a praça principal, cuidando gratuitamente de sua limpeza e conservação. A justificativa de tal gesto era em função “da higiene, da formosura e do progresso deste magnífico torrão”, conforme consignado em ata da Câmara Municipal. Eboli foi vereador e vale recordar que à época os vereadores não recebiam qualquer remuneração. Foi igualmente responsável pela vinda a Nova Friburgo do famoso paisagista do Imperador D. Pedro II, Augusto Maria Glaziou, para elaboração do projeto da Praça Princesa Isabel, atual Getúlio Vargas, buscando auxílio junto ao Barão de Nova Friburgo para que fosse o mecenas desse projeto. Em Cantagalo, seu nome é mencionado como participante do movimento abolicionista. Ainda segundo Fischer, no livro “Uma História em Quatro Tempos”, foi Carlos Eboli quem conseguiu junto à Companhia de Jesus a vinda do Colégio Anchieta para Nova Friburgo.

Eboli veio para Nova Friburgo objetivando um empreendimento grandioso: construiu o maior estabelecimento hidroterápico da América Latina. Para tanto, adquiriu o Instituto Colegial Freese do Coronel Galiano Emílio das Neves que funcionava na Rua Três de Janeiro, atual Monsenhor Miranda. No estabelecimento hidroterápico, Carlos Eboli tinha como sócio o médico Fortunato Correia de Azevedo. O Instituto Sanitário Hidroterápico ou Estabelecimento de Duchas começou a ser construído em 1870 e foi inaugurado em 1872. À época, a hidroterapia era uma doença preconizada para a cura dos que sofriam de enfraquecimentos, dispepsias, moléstias nervosas, tuberculose, beribéri, reumatismo, bronquite e outras moléstias. Havia uma inscrição, em pedra mármore, na parte externa da parede do prédio das duchas, com os seguintes dizeres: “Ao benemérito italiano Dr. Carlos Eboli, fundador deste estabelecimento hidroterápico, 1881-1884. Obra de seu saber, fonte de vida, renome e glória de Nova Friburgo. Homenagem de seus admiradores. 25 de junho de 1909.”

Carlos Eboli foi ousado. Como precisava dar boas acomodações aos que procuravam a hidroterapia, construiu um belíssimo complexo, em estilo neoclássico, com capacidade para hospedar 180 hóspedes, ligado à Casa das Duchas: o Hotel Central. Atualmente é o prédio do Colégio N. S. das Dores. O Instituto Hidroterápico foi o primeiro prédio a utilizar luz elétrica, isto quando a eletricidade só chegaria à cidade mais de 30 anos depois.

Carlos Eboli faleceu precocemente em 1885 e, desde então, o estabelecimento hidroterápico passa a enfrentar dificuldades financeiras mesmo com a administração de novos sócios. Em 1895, dez anos após a sua morte, sem o seu timoneiro, o Instituto Hidroterápico entra em processo de falência e é penhorado pelo Banco Comercial do Rio de Janeiro, através de uma Ação Hipotecária. Como era utilizado pela Marinha para cura de marinheiros com beribéri, houve interesse por parte dessa instituição em adquiri-lo. No entanto, como Rui Barbosa frequentava Nova Friburgo, na ocasião de suas férias de verão, logo se insurgiu contra essa aquisição apoiando a população local.

No manual de medicina do famoso médico polonês Piotr Czerniewicz, que viveu no Brasil entre 1840-1855, há uma descrição completa do Hotel Central com dados climatéricos e atmosféricos, abonadores da pitoresca Nova Friburgo. Na próxima semana uma síntese do discurso de Carlos Eboli na Academia Imperial de Medicina do Rio de Janeiro, em junho de 1870, por ocasião do lançamento do Instituto Sanitário Hidroterápico em Nova Friburgo.

Janaína Botelho é professora de História do Direito na Universidade Candido Mendes e autora do livro “História e Memória de Nova Friburgo”. historianovafriburgo@gmail.com

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Janaína Botelho

História e Memória

A professora e autora Janaína Botelho assina História e Memória de Nova Friburgo, todas as quintas, onde divide com os leitores de AVS os resultados de sua intensa pesquisa sobre os costumes e comportamentos da cidade e região desde o século XVIII.

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