Valores

quarta-feira, 01 de agosto de 2018

Há alguns anos, o ensino em um curso visava atender aos objetivos do programa, medindo-se em seguida o que os interlocutores aprenderam. Quando se apresentava um produto, ocorria coisa semelhante. Os produtos eram apresentados ao mercado, que aguardava o comportamento do consumidor, quase obrigado a comprá-los pela falta de opções.

Hoje, além das opções, deve-se levar em conta o valor daquilo que se ensinou e os valores que estão embutidos nos produtos fabricados. Cada produto envolve um valor e uma cultura. As vans trouxeram consigo, da Ásia para a América do Sul, uma nova concepção de transporte. Mais ágil, mais confortável e quase personalizado, este transporte faz concorrência com os ônibus urbanos. Torna-se inevitável a regulamentação desse tipo de transporte.

Quando não se regulamenta, a anarquia toma conta do sistema. Aqueles que desejam a repressão, por meio das ações de governo ou polícia, quase nada conseguem. Quanto ao transporte, fato semelhante ocorre com os serviços de táxi e mototáxi. O que é mais seguro? O táxi, evidentemente. Qual o mais rápido, na hora do rush? O mototáxi, com todas as inconveniências. É por isso que não conseguem ser impedidas as ações de mototaxistas, apesar dos protestos; o mesmo acontece com o transporte regulamentado e os sem regulamentação.

Pergunta-se, então: Quando ocorrerá o caos no trânsito e no transporte por causa da concorrência entre os regulamentados e não regulamentados? Este momento será estabelecido quando os trabalhadores, em vários setores das atividades urbanas, chegarem ao trabalho somente com o concurso desses veículos sem regulamentação. Quem os defenderá, agora, serão os industriais, os comerciantes e até os ambulantes.

Quando envolvida a sociedade, nada mais ou quase nada mais se pode fazer. Dentro de uma universidade ou escola de ensino fundamental e médio, deve-se, agora, perguntar que valor e cultura estarão embutidos naquilo que se ensina. Perdem a força os conteúdos programáticos que atendem ao ensino    oficial,  para dar lugar ao valor intimamente ligado ao que se ensina.

Para que serve então o conteúdo ministrado? Serve para fazer pensar e sentir? Facilitará a distribuição de renda? Libertará o ser humano de jugos de paradigmas arraigados há séculos? Se servir, pode ficar. Se não servir, sua manutenção será, apenas, para bajular os neuróticos que os defendem. Por esta razão, muitas escolas perdem o seu prazo de validade. Ficam ultrapassadas, como uma casa comercial que ainda tentasse vender ferros de passar roupa aquecidos à brasa.

Os valores que hoje são defendidos pela sociedade do conhecimento envolvem a ética e a estética, portanto estudar em uma escola ou universidade fará sentido em função daquilo que ultrapassar o simples ensinar e aprender. O binômio tecnicista da década de 1970: ensino e aprendizagem está ultrapassado se a ele nada se agregar em função da convivência no meio social. Os elementos de respeito pela pessoa humana, a compaixão e a consideração pelo outro são mais importantes que o ensino propedêutico porque determinarão o modo de agir de quem estiver preparado para exercer sua profissão.

Outra questão importante é a estética. Não se trata, apenas, de legar um produto à sociedade. O desejo do consumidor, hoje, está voltado também para a embalagem. A apresentação conta muito. Os produtos, as conferências, as aulas e as vitrines devem ser memoráveis. Foi-se o tempo em que nossos avós plantavam, colhiam, cozinhavam, comiam e faziam a digestão preparando-se para plantar novamente.

Hoje, as pessoas compram sonhos e estes são ligados à beleza das coisas. Portanto, ou se apresenta à sociedade alguma coisa memorável ou, então,   ela ficará nas prateleiras, inclusive os estilos de aulas tradicionais que desprezam a estética e a beleza das ideias. A noção de valor na sociedade do conhecimento ultrapassou a noção de preço da sociedade industrial. Hoje, pergunta-se, além de “quanto custa”, “quanto vale”, o que envolve todo o ser humano na questão.

TAGS:

Hamilton Werneck

Hamilton Werneck

Eis um homem que representa com exatidão o significado da palavra “mestre”. Pedagogo, palestrante e educador, Hamilton Werneck compartilha com os leitores de A VOZ DA SERRA, todas as quartas, sua vasta experiência com a Educação no Brasil.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.