Sou friburguense!

quarta-feira, 16 de maio de 2018

De onde vem a paixão que esta cidade exerce sobre seus filhos de sangue ou de adoção?

Talvez todo cidadão devesse dizer sobre a cidade em que nasceu o que disse Rui Barbosa a respeito da Pátria: “...É o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados”.

E foi disso que me lembrei quando dona Ana Lúcia me sugeriu que a crônica desta semana fosse sobre Nova Friburgo: “Afinal, a cidade faz 200 anos, e logo numa quarta-feira, que é o seu dia no jornal”. Ai de mim, geralmente tão desabastecido de ideias, e ainda mais fraco delas quando um assunto se antepõe à minha própria falta de assunto, e fico eu indeciso entre o não e o nada que vagam pela minha cabeça vazia.

Escrever sobre Nova Friburgo é muito fácil, desde que você não tenha que escrever sobre Nova Friburgo. Também é facílimo escrever sobre o Dia das Mães, sobre o Natal ou o Ano Novo, desde que não estejam perigosamente se aproximando o Dia das Mães, o Natal ou o Ano Novo. Porque, nesse caso, meu amigo, é grande o perigo de cair-se no chamado “lugar comum”, que vem a ser um dos piores lugares em que pode cair quem escreve.

Mas, convocado a falar sobre Nova Friburgo, resolvi assumir o risco. Lugar-comum? Que seja!

Quando abri os olhos para o mundo, o mundo era Nova Friburgo. E assim ficou sendo para sempre, porque nenhum lugar que eu conheça (são bem poucos, mas se fossem muitos não faria diferença) jamais me encheu tanto os olhos e o coração quanto esta cidade que costumo cantar em má prosa, mas que outros cantaram com engenho e arte.

Hoje, quando essa jovem senhora completa 200 anos, revejo o menino que em seu chão deu os primeiros passos, o adolescente que andava por aí de bicicleta, o jovem que em suas ruas, praças, cinemas e escolas aprendeu e desaprendeu as coisas da vida. Aqui estudou, trabalhou, se casou, teve filhos e netos, sentindo crescer sempre o encantamento pela terra que o viu nascer, ou melhor, pela terra que ele viu ao nascer.

De onde vem a paixão que esta cidade exerce sobre seus filhos de sangue ou de adoção? Talvez de suas belas montanhas, dentro das quais nos sentimos tão em casa. Talvez de sua história, tão original, construída por tantos povos, transformados num povo só. Talvez porque esse povo, ao ser atingido por uma das maiores tragédias climáticas do mundo, não se dobrou debilmente, mas antes heroicamente redobrou-se, reconstruiu-se, reergueu-se.

E essa sensação reconfortante de andar pela cidade, encontrando em cada esquina um rosto cordial, ouvindo um oi descontraído, um simples aceno que vale por abraço apertado. É bom tanto estar entre os conhecidos, que são amigos reais, quanto entre os desconhecidos, que são amigos possíveis. 

Quanta coisa a dizer sobre a cidade hoje duas vezes centenária! Porém não é preciso mais do que citar o velho Rui. Nova Friburgo é, para todos nós que a amamos,  “É o céu, o solo, o povo, a tradição, a consciência, o lar, o berço dos filhos e o túmulo dos antepassados”. Por tudo isso, precisa e merece que a amemos e por ela trabalhemos, a fim de que, no futuro, como hoje, haja brilho nos olhos e orgulho no peito de quem diz “Sou friburguense!”

TAGS:

Robério Canto

Escrevivendo

No estilo “caminhando contra o vento”, o professor Robério Canto vai “vivendo e Escrevivendo” causos cotidianos, com uma generosa pitada de bom humor. Membro da Academia Friburguense de Letras, imortal desde criancinha.

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.