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sexta-feira, 24 de abril de 2015
Foto de capa
Gal Costa - 1969 (Reprodução)

O terceiro disco de Gal Costa — levando em conta Domingo (1967), lançado junto com Caetano Veloso — é um dos maiores marcos do rock psicodélico no país. A baiana não deixa nada a dever aos grandes álbuns do estilo lançados do mercado internacional. O LP conta com a participação indispensável de Lanny Gordin e composições de nomes como Jorge Ben, Gilberto Gil e da dupla Roberto e Erasmo.

Nas músicas, Gal se divide entre a suavidade e a selvageria. Às vezes, em uma mesma música dá para perceber esses dois lados. Já na abertura, “Cinema Olympia”, após um violentíssimo convite da guitarra distorcida, a cantora começa trabalhando os versos de forma bem suave. Em uma das passagens, vai aumentando sua voz enquanto cita vários personagens do cinema americano da época — reforçando a proximidade do Tropicalismo com a cultura pop. 

Nas duas composições de Jorge Ben, as interpretações têm uma presença incrível. Em “Tuareg”, os timbres de música oriental fazem contraste com uma linha de baixo forte. Já “País Tropical” é um dos pontos altos do LP. A famosa canção que exalta o Brasil e também uma das faces de seu povo traz Gil e Caetano roubando a cena com suas participações. Gal faz a voz principal, porém, seus parceiros baianos fazem vocais totalmente anárquicos e à parte da linha de voz em que a cantora segue na música. Gil, como sempre, usa e abusa de seus característicos vocalizes de forma única.

A banda de apoio dá um show à parte em “A Cultura e A Civilização”. Contando com sons de duas guitarras, Lanny Gordin mostra seu enorme brilhantismo na música. Mesmo solando o tempo todo, o guitarrista não deixa isso se tornar cansativo. A bateria acompanha bem os outros instrumentos na faixa e o baixo faz linhas que fogem muito bem do convencional. Gal Costa não fica atrás, cantando de forma agressiva e com muito sentimento.

O lado violento também aparece em outra composição de Gil, “Com Medo, Com Pedro”. O baixo aparece com a mesma inspiração no blues rock inglês, e a guitarra — com efeito fuzz — faz diversos trechos em solo. A voz de Gal aparece dobrada em várias partes, como se fossem duas cantoras na faixa. A música traz algumas variações interessantes e tem uma letra muito interessante, falando sobre coragem, e feita, certamente, inspirada no filho do baiano, Pedro Gil — que veio a se tornar baterista e faleceu em um acidente de carro em 1990.

As três últimas faixas do disco trazem um forte lado experimental. A primeira delas é “The Empty Boat”, música de Caetano que, no disco, tem a participação de Jards Macalé. A canção tem um clima totalmente psicodélico, com diversas viradas de bateria e marcação nos pratos, efeitos de wah-wah na guitarra e um ritmo progressivo. Os vocais de Jards, aliados à voz principal de Gal, dão uma energia muito maior à canção composta em inglês.

A introdução da música seguinte, “Objeto Sim, Objeto Não”, traz uma liberdade e um experimentalismo únicos. Contando também com sopros na faixa, a letra cheia de imagens funciona incrivelmente para o arranjo desenvolvido pelo maestro Rogério Duprat. Encerrando o álbum aparece “Pulsars e Quasars”, de Capinam e Jards Macalé. A letra faz metáforas com temática espacial e parece uma carta para Gil e Caetano, que seriam exilados naquele ano. Os versos pedem notícias dos baianos, falam do surgimento de “novos seres” na música e, mesmo que de forma disfarçada, mostram todo um sentimento de saudade da dupla.

Por último, vale citar a composição de Roberto e Erasmo, “Meu Nome É Gal”. A faixa traz a cantora se apresentando, como se enviasse um bilhete em busca de um namorado. As orquestrações sob a batuta de Rogério Duprat são o charme da faixa. Além de apresentar as características do pretendente, em um canto quase falado, Gal cita figuras de grande importância da cultura brasileira da década de 1960. Entre os nomes, aparecem diversos tropicalistas, figuras do cinema, além de outros pilares da música brasileira.

Gal Costa (1969)

Artista: Gal Costa 

Produção: Manoel Barenbein

Selo: Philips

Músicas:

1. Cinema Olympia

2. Tuareg

3. Cultura e Civilização

4. País Tropical

5. Meu Nome É Gal

6. Com Medo, Com Pedro

7. The Empty Boat

8. Objeto Sim, Objeto Não

9. Pulsars e Quasars

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