Um tremendo disco

sábado, 21 de março de 2015
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Carlos, Erasmo (1971)

Carlos, Erasmo (1971) - Erasmo Carlos

Em 1971, a moda da Jovem Guarda e do Iê-iê-iê já tinham ido embora. A prova concreta disso é esse álbum de Erasmo Carlos, o oitavo de sua carreira. O disco mostra o cantor bem mais enraizado na música popular do Brasil e também na soul music, com timbres refinados e arranjos impecáveis, contando com um time de músicos invejável.

O movimento tropicalista está muito presente no disco. O álbum já abre com um samba de Caetano Veloso, "De Noite, Na Cama”, em uma versão eletrificada e contagiante. Entre os músicos do álbum estão o lendário guitarrista Lanny Gordin e os mutantes Sérgio Dias, Liminha e Dinho, além de Dirceu Medeiros, que foi o baterista do primeiro LP do grupo. Carlos, Erasmo também teve a participação do maestro Rogério Duprat, que fez os arranjos de "26 Anos de Vida Normal”.

As canções da obra ora são calmas e aconchegantes, ora pesadas e carregadas. Há desde a baladinha folk de "Masculino, Feminino” — com participação da vocalista do O Bando, Marisa Fossa — e "Em Busca das Canções Perdidas Nº2” ao rock pesado em "Agora Ninguém Chora Mais” — com muito eco nos vocais e linhas absurdas de guitarra.

O soul — que já estava virando tendência no Brasil através de Tim Maia e Cassiano — é o gênero que define os maiores destaques do disco. O estilo é base de músicas como "Dois Animais Na Selva Suja da Rua”, que mistura elementos de fusion, contando com um piano inacreditável na introdução. A linha de baixo é muito bem construída e a canção traz trechos com orquestrações que ajudam a compor o clima da faixa. 

Mais exemplos do soul no LP são "Ciça, Cecília”, "É Preciso Dar Um Tempo, Meu Amigo” e "26 Anos de Vida Normal”. A terceira — parceria de Marcos e Paulo Sérgio Valle — traz a inconfundível guitarra de Sérgio Dias na introdução e acentuações de samba em alguns trechos. 

O disco tem também flertes com o brega ("Não Te Quero Santa”) e o religioso ("Sodoma e Gomorra”). Há também o psicodelismo em ”Maria Joana”, com sua letra tão sugestiva quanto seu título, e que tem a participação da Caribe Steel Band. 

Carlos, Erasmo é um álbum moderno, ainda hoje. Isso se deve tanto pela qualidade única de sua parte instrumental — justificada na reunião de dois dos melhores guitarristas do país, linhas memoráveis de baixo e no piano Regis Moreira — aliada a voz suave do cantor, quanto pela boa seleção do repertório, com arranjos de Chiquinho de Morais, Arthur Verocai e Rogério Duprat.

 

Carlos, Erasmo (1971)

Artista: Erasmo Carlos

Músicos: Erasmo Carlos (voz), Arnolpho Lima Filho "Liminha” (guitarra e baixo), Sérgio Dias (guitarra), Sérgio Sznelwar (baixo), Ronaldo P. "Dinho” Leme (bateria), Regis Moreira (piano), Aristeu dos Reis (guitarra), Lanny Gordin (guitarra), Antônio Guize (baixo), Flávio de Barros (bateria), Sérgio Fayne (violão), Dirceu S. Medeiros (berimbau), Oswaldo Barro (cuíca) e Antônio P. Filho (Agogô)

 

Produção: Manoel Barenbein, Erasmo Carlos e Nelson Motta

Selo: Philips

Músicas:

1. De Noite Na Cama

2. Masculino, Feminino

3. É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo

4. Dois Animais Na Selva Suja da Rua

5. Gente Aberta

6. Agora Ninguém Chora Mais

7. Sodoma e Gomorra

8. Mundo Deserto

9. Não Te Quero Santa

10. Ciça, Cecília

11. Em Busca Das Canções Perdidas Nº 2

12.  26 Anos de Vida Normal

13. Maria Joana

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