Um adeus ao poeta Outubro – Fernando Brant (2002) – Vários Artistas

sábado, 20 de junho de 2015
Foto de capa

No último dia 12, sexta-feira, o Brasil ficou órfão de um de seus maiores letristas. Fernando Brant, mineiro de Caldas, morreu aos 68 anos após complicações em um transplante de fígado. Foi a segunda operação do tipo a qual o compositor de clássicos como “Travessia” e “Canção da América” foi submetido. Em 2002, em reconhecimento ao seu talento, o selo Dubas Música lançou o álbum Outubro, uma coletânea que reúne versões clássicas de canções deste membro fundador do Clube da Esquina.

Muitos músicos do Clube aparecem no CD, como Milton Nascimento, Beto Guedes, Toninho Horta e Lô Borges, com a gravação original de “Paisagem Na Janela”. Milton é o responsável por Brant ter investido na carreira de compositor e foi um de seus principais parceiros. O começo da parceria deu-se quando, na década de 1960, o cantor intimou o amigo a escrever uma letra para ele. Assim nasceu “Travessia”, que rendeu uma premiação a Milton na década de 1960 e encerra este disco.

Porém, bem antes do encerramento, vem a abertura. Outubro começa com “Vevecos, Panelas e Canelas”. A letra é das mais patrióticas, com coração mineiro. No refrão, o grito: “Para quem não me conhece eu sou brasileiro/Um povo que ainda guarda marca interior/Para quem não me conhece eu sou é mineiro”. O arranjo tem belíssimos teclados, pilotados por Wagner Tiso, e a voz suave de Beto Guedes.

Em seguida, Milton interpreta “Outubro”, desfrutando de toda a força de sua voz. A letra poética de Brant é acompanhada com ênfase pelo piano do jazzista Herbie Hancock e também pelos vocais de Anamaria Valle. Mas o ápice do disco fica por conta do guitarrista Toninho Horta, que interpreta seu maior clássico: “Manuel, O Audaz”.

A história de “Manuel, O Audaz” é uma das mais famosas do Clube da Esquina. Toninho apresentou a canção ainda instrumental, com sua harmonia lindíssima, para Fernando Brant que, em um momento de inspiração, achou a música a cara do seu jipe. O carro do letrista possuía o nome que batizou a canção e, dessa história curiosa, nasceu uma das mais belas canções populares do Brasil.

Mas Outubro não é um disco exclusivo do Clube da Esquina. Outros nomes da música brasileira aparecem no álbum, mostrando que a poesia de Fernando atingiu diversos segmentos. Os destaques ficam para “Canção da América”, na bela interpretação de Elis Regina, com ênfase nos violões com som de viola caipira; “O Que Foi Feito Devera”, com Gonzaguinha nos vocais e cheia de citações; e também a versão especial de Maria Bethânia para “Canções e Momentos”, uma das melhores letras de Fernando Brant, sobre a profissão de músico.

Fernando Brant parte deixando uma obra de valor inestimável. Só com Milton Nascimento, o mineiro fez cerca de 200 músicas. Mesmo transitando em diversas temáticas, o que fica mais evidente nas letras do compositor são os sentimentos. Independentemente de sobre quais sentimentos o poeta versava, são sempre intensos e tocantes para o ouvinte que, mesmo não vivendo as histórias, consegue senti-los. Que em sua nova travessia o compositor descanse em paz.

Outubro – Fernando Brant (2002)

Artistas: 

Beto Guedes, Milton Nascimento, Nana Caymmi, Lô Borges, Elis Regina, Gonzaguinha, Toninho Horta, Maria Bethânia, Tito Madi, Ney Matogrosso, Simone e Tavinho Moura

Produção: 

Edison Viana e Marcela Boechat

Selo: 

Dubas Música

Músicas:

1. Vevecos, Panelas e Canelas
2. Outubro
3. Ponta de Areia
4. Paisagem da Janela
5. Canção da América
6. O Que Foi Feito Devera
7. San Vicente
8. Saudade dos Aviões da Panair (Conversando no Bar)
9. Manuel, o Audaz
10. Canções e Momentos
11. Fruta Boa
12. Coração Civil
13. Itamarandiba
14. Paixão e Fé
15. Travessia

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