“Supergrupo” à baiana Doces Bárbaros (1976)

domingo, 24 de maio de 2015
Foto de capa

No ano de 1976, Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil e Maria Bethânia resolveram se reunir para comemorar 10 anos de carreira. O resultado dessa comemoração foi o projeto Doces Bárbaros, banda que reuniu os quatro músicos baianos e que gerou um documentário — dirigido por Jom Tob Azulay — e um disco duplo, gravado ao vivo.

Apesar do caráter comemorativo, o show não reuniu os sucessos da carreira dos músicos. O repertório é cheio de músicas até então inéditas, a maioria composta por Gil e Caetano. Além de canções da dupla baiana, aparecem composições de Herivelto Martins e David Nasser, Milton Nascimento e Ronaldo Bastos, e do poeta Waly Salomão. Todas elas recebem uma roupagem moderna, misturando seu caráter tradicional ao som jazz-rock da banda de apoio.

A parte instrumental do disco é bem elaborada, fazendo jus às letras. “São João, Xangô Menino”, por exemplo, tem todo o caráter de música nordestina, com um brilho a mais pela presença do piano elétrico. “Fé Cega, Faca Amolada”, lançada um ano antes, no disco “Minas”, de Milton Nascimento, aparece em uma versão roqueira totalmente desconstruída, para Rolling Stones nenhum botar defeito.

Também com caráter roqueiro, o disco traz “Chuckberry Fields Forever”, que tem um trocadilho com a famosa canção dos Beatles em seu título. Com instrumental totalmente calcado no hard rock, a composição de Gilberto Gil tem um baixo bastante agressivo e ótimos solos de guitarra e saxofone. Apesar do lado mais pesado, o disco também traz a vertente mais suave do som dos baianos. É o caso de “O Seu Amor”, “Atiraste Uma Pedra” e uma belíssima versão de “Esotérico”, também de Gil.

Antes de aparecer como um reggae no disco Um Banda Um (1982), de Gil, “Esotérico” recebeu uma versão envolvente, cantada por Gal e Bethânia. As baianas dividem maravilhosamente os vocais nessa aconchegante música de amor. Também são notáveis no disco as duas versões de ”Os Mais Doces Bárbaros“. A primeira é maior, com a letra completa. A segunda é curtíssima, com menos de dois minutos. A canção é de certa forma, uma apresentação da banda, feita como um genuíno rock baiano, do jeito que só a turma que originou a Tropicália sabe fazer.

Doces Bárbaros é um álbum histórico da música brasileira. Marcante não só por ser a comemoração de 10 anos da carreira desses quatro cavaleiros do após-calipso, o quarteto também pode ser considerado um dos primeiros “supergrupos” brasileiros, termo utilizado geralmente para definir bandas que reúnem músicos já famosos e respeitados no cenário musical.

Doces Bárbaros (1976)

Artista: Doces Bárbaros

Músicos: Gal Costa (voz), Maria Bethânia (voz), Caetano Veloso (voz), Gilberto Gil (voz), Arnaldo Brandão (baixo e violão de sete cordas), Chiquinho Azevedo (bateria), Djalma Corrêa (percussão), Mauro Senise (flauta e saxofone), Perinho Santana (guitarra e violão), Tomás Improta (piano) e Tuzé de Abreu (flauta e saxofone) 

Produção: Guilherme Araújo/ Perinho Albuquerque

Selo: Polygram/Philips

Músicas:
1. Os Mais Doces Bárbaros
2. Fé Cega, Faca Amolada
3. Atiraste Uma Pedra
4. Pássaro Proibido
5. Chuckberry Fields Forever
6. Gênesis
7. Tarasca Guidon
8. Eu e Ela Estávamos Ali Encostados Na Parede
9. Esotérico
10. Eu Te Amo
11. O Seu Amor
12. Quando
13. Pé Quente, Cabeça Fria
14. Peixe
15. Um Índio
16. São João, Xangô Menino
17. Nós, Por Exemplo
18. Os Mais Doces Bárbaros (reprise)

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