O Jardim do Éden do rock nacional

segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016
Foto de capa

Jardim Elétrico (1971) – Os Mutantes

Jardim Elétrico é o álbum definitivo do rock brasileiro. É o registro dos Mutantes em sua melhor forma: como instrumentistas, compositores e em entrosamento como banda. Com um som definidíssimo, é o marco do grupo já tendo passado de sua fase tropicalista – onde era mais influenciado por grupos como o The Mamas And Papas e os Beatles, além de música nacional – e pelo disco transitório A Divina Comédia Ou Ando Meio Desligado, de 1970.

Também em 1970, os Mutantes fizeram sua primeira viagem internacional, para a França. Nessa ocasião, tomaram LSD pela primeira vez, dando início a uma constante viagem psicodélica que influenciaria totalmente o som e o comportamento da banda. Ainda na estadia na Europa, gravariam o álbum Tecnicolor, um verdadeiro tesouro que permaneceria oculto até o ano de 2000. A ideia do disco era lançar a banda no mercado internacional e nele entraram diversas versões de músicas já lançadas pela banda em seus três primeiros trabalhos, além de músicas que entrariam em Jardim Elétrico. É o disco mais Beatles dos Mutantes.

Jardim Elétrico aparece no ano seguinte com toda bagagem musical que os Mutantes aprenderam com os tropicalistas e mais o rock internacional. É um exercício de casa que ganhou nota máxima, ponto extra e estrela de bom aluno. Rock n’ roll puro e contagiante. Rita Lee canta com uma voz totalmente aguda e debochada, Liminha agride o contrabaixo com toda potência e Sérgio captura toda atenção com sua guitarra chamativa.

A influência de Tim Maia, que estava despontando com a Soul Music no Brasil e era amigo próximo dos paulistas aparece clara também, em faixas como “Benvinda”, uma homenagem clara ao síndico, com Arnaldo Baptista tentando humoristicamente imitar o timbre de voz do cantor e “Portugal de Navio”, com muitas referências de jazz. Solos de gaita e timbres de baixo acústico são destaques na faixa.

De forma mais límpida e admirável, as concepções de rock do grupo aparecem no vinil. “It’s Very Nice Pra Xuxu” traz um órgão suave, viradas de bateria fortes e letra e harmonia que entregam um clima íntegro de paixão e paz. “Saravá” entra com Sérgio Dias destruindo tudo na guitarra, um dos rocks mais pesados do Brasil até então. E a faixa título, entrega já os primeiros pés da banda no rock progressivo, com compassos diferentes em momentos da faixa e os instrumentos em linhas fantásticas por todo o álbum. Ainda vale citar “Virgínia” e “Tecnicolor”, totalmente influenciadas pelo rock britânico e “El Justiceiro”, com pura influência da música latina.

Jardim Elétrico termina com uma versão linda de “Baby”, a mesma que aparece em Tecnicolor. Transformada em bossa-nova, a mais lindas das composições de Caetano Veloso chega trazendo um sentimento de serenidade e amor fantásticos. É de se apaixonar.

Jardim Elétrico (1971)

Artista: Os Mutantes

Músicos: Arnaldo Baptista (teclados, baixo e voz), Rita Lee (voz, percussão e efeitos), Sérgio Dias (guitarra e voz), Dinho Leme (bateria) e Liminha (baixo)

Produção: Arnaldo Baptista

Selo: Polydor

Músicas:

  1. Top Top
  2. Benvinda
  3. Tecnicolor
  4. El Justicieiro
  5. It’s Very Nice Pra Xuxu
  6. Portugal de Navio
  7. Virgínia
  8. Jardim Elétrico
  9. Lady, Lady
  10. Saravá
  11. Baby
TAGS:

A Direção do Jornal A Voz da Serra não é solidária, não se responsabiliza e nem endossa os conceitos e opiniões emitidas por seus colunistas em seções ou artigos assinados.