O samba no cinema

sábado, 02 de dezembro de 2017

O cinema brasileiro sempre soube usar muito bem suas características genuínas como temática, e o samba não foi diferente. Ao longo do tempo, seja em pequena ou grande produção, a musicalidade sambista e suas especificidades estiveram presentes na nossa cinematografia.

A exportação do Brasil a partir do samba é louvável, seja com personagens marcantes ou mesmo os desfiles na Marquês de Sapucaí do Rio de Janeiro, considerado o maior evento do mundo. O universo do cinema não poderia passar em branco dessa brasilidade, muito filmes são feitos desde a década de 50 e se superam a cada produção.

O caso mais emblemático é o filme Orfeu do Carnaval, dirigido por Marcel Camus e com roteiro adaptado por Camus e Jacques Viot a partir da peça teatral Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes. Uma produção ítalo-franco-brasileiro de 1959 com trilha sonora de Tom Jobim e Luís Bonfá e interpretação de Agostinho dos Santos na música-tema de Orfeu, "Manhã de Carnaval". O filme ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1960 representando a França. Com isso, trata-se da primeira produção de língua portuguesa a conquistar uma estatueta do Oscar e a única na categoria de melhor filme estrangeiro.

Apenas um ano antes, um dos maiores cineastas da história do Brasil, Nelson Pereira dos Santos, escreveu e dirigiu o filme Rio, Zona Norte (1957), com os emblemáticos atores Grande Otelo e Jece Valadão. O filme narra a trajetória de um sambista carioca e as peraltices da vida de um típico brasileiro, que vê no samba a inspiração para retratar um pouco de sua vida e narrar o que o mesmo vê e sente. O filme traz informações relevantes sobre o samba de raiz e as dificuldades dos elementos anônimos que criam letras e muitas vezes são trapaceados por pessoas que lucram sobre os direitos autorais.

Quase 40 anos depois chegam às salas de cinema dois filmes quase ao mesmo tempo, com roteiros que reconstruíram suas histórias. Está claro que as portas sempre estiveram abertas para o samba no cinema, com ela surgem documentários e ficções como Cartola - Música Para os Olhos (2007), de Lírio Ferreira e Hilton Lacerda. Com roteiro que vai da infância ao auge da carreira daquele que se tornaria o sambista mais respeitado e cultuado do país, Cartola. O outro sambista trata-se nada menos de Noel Rosa no filme Noel: Poeta da Vila (2006), de Ricardo Van Steen. A ficção conta a história de Noel aos 17 anos como um jovem engraçado, que possui um defeito no queixo, estuda Medicina e toca numa banda regional até sua morte precoce aos 27 anos.

O novo milénio se mostrou próspero para o cinema como um todo, o samba mais uma vez fez parte. Logo em 2002 chega aos cinemas Madame Satã, de Karim Aïnouz. O filme retrata a vida da cultura marginal urbana do século XX, principalmente o célebre transformista João Francisco dos Santos - malandro, artista, presidiário, pai adotivo de sete filhos, negro, pobre, homossexual - conhecido como lendário personagem da boêmia carioca "Madame Satã" e frequentador do bairro boêmio da Lapa, no Rio de Janeiro.

O carnavalesco mais popular dos últimos anos não poderia ficar de fora, Paulo Machline leva aos cinemas em 2014 o filme Trinta, uma cinebiografia da história do carnavalesco Joãosinho Trinta com o ator Matheus Nachtergaele no papel. O roteiro refaz sua vinda do Maranhão, seu auge no carnaval do Rio de Janeiro e reconhecimento como artista.

Por fim, não poderia deixar de lado um documentário que passou despercebido por muitos. Em 2013, a cineasta Susanna Lira nos apresenta o lado feminino do samba no documentário Damas do Samba. Este filme faz um breve passeio pela história de algumas mulheres emblemáticas, reverenciando e reconhecendo sua força e a contribuição para a construção do samba. Desde que o samba surgiu no Rio de Janeiro, a presença feminina foi fundamental para a sua criação, manutenção e perpetuação até os dias de hoje, elas formam um painel de cores, sentimentos e sons na representação desta cultura.

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