A verdadeira alegria da Páscoa

terça-feira, 10 de abril de 2018

Caros amigos, “a ressurreição de Jesus é a verdade culminante da nossa fé em Cristo, acreditada e vivida como verdade central pela primeira comunidade cristã, transmitida como fundamental pela tradição, estabelecida pelos documentos do Novo Testamento, pregada como parte essencial do mistério pascal” (Catecismo da Igreja Católica, 638). Quando a vivência cristã perde este centro, as consequências são uma vida vazia de sentido e uma prática religiosa fundada no subjetivismo e alimentada pela espetacularização.

O fato inesperado da ressurreição transforma a mente e o coração dos discípulos. Jesus não ressuscita somente para si mesmo, sua ressurreição é experimentada por cada ser humano. A Páscoa da Ressurreição não se encerra numa celebração solene, ela é vivida na perspectiva de que possa produzir autênticos frutos de conversão (cf. Rm 6,4).

Traz para cada ser humano, para a história e para o mundo uma experiência nova: o triunfo da vida sobre a morte, infundindo no homem uma felicidade que não pode ser tirada por coisa alguma. Tamanha alegria incide diretamente na pessoa, transforma seu modo de viver e de enxergar a realidade, reforçando a esperança até nos momentos mais obscuros.

Enquanto a alegria da experiência com o ressuscitado, testemunhada pelos discípulos de ontem e de hoje, é capaz de gerar persistência diante das dificuldades e das tentativas de calar o anúncio da Boa Nova. Por outro lado, a euforia percebida em verdadeiras caricaturas celebrativas que infelizmente se multiplicam nas redes sociais, nos dão conta de um certo esgotamento e é sintoma de um grande vazio na fé.

O coração que ancora sua esperança numa fé espetaculosa, cansa de lutar diante das dificuldades, porque, em última análise, busca a si mesmo num carreirismo sedento de reconhecimentos, aplausos, prêmios e promoções (Evangelii gaudium, 277). Desta maneira, a ressurreição do Senhor fica aprisionada no passado, sendo lembrada somente como mais uma festividade do calendário cristão. Quem vive a Páscoa do Senhor desta forma, não consegue sair da morte para a ressurreição.

A fé cristã é certeza do amor pleno de Cristo crucificado e ressuscitado, do seu poder eficaz, da sua capacidade de transformar o mundo e iluminar o tempo. Uma fé que nos faz caminhar na vida não de forma alienada e tola, mas pisando bem firme o chão da realidade, que não nos isenta de dificuldades, perseguições e sofrimentos. (cf. Lumen Gentium, 15)

Isto é, significa “acreditar que [Deus] nos ama verdadeiramente, que está vivo, que é capaz de intervir misteriosamente, que não nos abandona, que tira bem do mal com o seu poder e a sua criatividade infinita. Significa acreditar que ele caminha vitorioso na história ‘e, com ele, estarão os chamados, os escolhidos, os fiéis’ (Ap 17, 14). (...) A ressurreição de Cristo produz por toda a parte rebentos deste mundo novo; e, ainda que os cortem, voltam a despontar, porque a ressurreição do Senhor já penetrou a trama oculta desta história” (Evangelii gaudium, 278).

Num mundo onde as injustiças, maldades, indiferenças e crueldades não cedem, é a certeza da ressureição do Senhor que faz aparecer a vida, tenaz e invencível (cf. idem, 276). Assim, a alegria do ressuscitado se fará presente em nossa vida quando, pela fé, formos capazes de atualizar as palavras de Jesus: “se o grão de trigo não cair na terra e não morrer, permanecerá ele só; mas se morrer produzirá muito fruto” (Jo 12,24).

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Dom Edney Gouvêa Mattoso

A Voz do Pastor

Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.

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