Sociedade solidária

terça-feira, 09 de julho de 2019

Caros amigos, somos impelidos pela mensagem cristã a nos reconhecermos como irmãos, herdeiros da promessa (cf. Gl 4,28). Contudo, não se pode negar que a humanidade é muitas vezes afastada do bem ou impelida ao mal pelas condições em que vive. Marcado pelo pecado, o homem descobre em si germes de insociabilidade, de fechamento individualista e de opressão do outro (cf. Gaudium et Spes, 25).

Com a chegada do inverno, muitos de nossos irmãos em situação de rua veem se agravar em sua dignidade a ferida da indiferença e do descaso. Essa triste realidade culmina num agudo sofrimento que, por vezes, leva à morte. O Papa Francisco, na mensagem para o III Dia Mundial do Pobre, chama atenção da Igreja para todos aqueles que estendem as suas mãos pedindo a nossa solidariedade.

O pontífice adverte que a condição dos pobres nos obriga a estar mais próximos do corpo do Senhor que sofre neles. “Somos chamados a tocar a sua carne para nos comprometermos em primeira pessoa num serviço que é autêntica evangelização. A promoção, mesmo social, dos pobres não é um compromisso extrínseco ao anúncio do evangelho; pelo contrário, manifesta o realismo da fé cristã e a sua validade histórica” (03 jun. de 2019).

É o amor que dá vida à fé em Jesus, e deve ser manifesto em ações cotidianas. A esperança pode ser alimentada com gestos de atenção e escuta. Infelizmente, os irmãos que sofrem as terríveis consequências da pobreza são contados apenas como parte das estatísticas que justificam obras e projetos, por vezes, manchados pela corrupção.

É urgente romper com o individualismo asfixiador, por vezes disfarçado num belo discurso ideológico, mas sem qualquer influxo na vida social. Neste sentido, a doutrina social da Igreja alerta que o cuidado com o próximo é próprio da vocação de todo indivíduo. “Toda sociedade digna desse nome pode considerar estar na verdade quando cada membro seu, graças à própria capacidade de conhecer o bem, persegue-o para si e para os outros. É por amor do bem próprio e de outrem que se dá a união em grupos estáveis, tendo como fim a conquista de um bem comum” (Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 150).

O amor anunciado por Cristo e perseguido por seus discípulos, é desinteressado (cf. 1Cor 13, 4-7). Deve ser expressado no serviço ao outro não por necessidade ou vaidade, mas porque ele é um irmão, independentemente da sua aparência e condição. Assumida esta consciência, a prática solidária adquire traços da autêntica opção pelos pobres, isenta de toda ideologia e da tentativa de utilizá-los como meio de satisfazer interesses pessoais, políticos e até mesmo acadêmicos, prodigalizando discursos sem nenhum toque na realidade do pobre (cf. Evangelii gaudium, 199).

Qualquer pretensão distante deste modo de proceder, inclusive a evangelização, corre o risco de não ser compreendida ou de afogar-se num mar vazio de palavras e projetos. Se desejamos um mundo de justiça e paz, temos que tomar a peito a virtuosa prática da solidariedade, favorecendo a sadia convivência e promovendo a dignidade humana e o bem comum.

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Dom Edney Gouvêa Mattoso

A Voz do Pastor

Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.

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