A Sagrada Escritura na Igreja

terça-feira, 18 de setembro de 2018

Caros amigos, na semana passada, diante da tragédia do Museu Nacional, refletíamos sobre a importância da preservação dos bens histórico-culturais. A conservação da história, com sua cultura e valores autênticos, é o que garante a construção da identidade de uma nação.

No ensejo de tal reflexão, gostaria de retomar as considerações sobre a bíblia neste mês de setembro. As páginas das Sagradas Escrituras formam o testemunho escrito da palavra divina, um memorial que confirma o acontecimento da revelação de Deus ao homem. Originalmente, este testemunho não foi posto por escrito e guardado como uma peça de museu. A bíblia, como a conhecemos hoje, é fruto de um longo processo.

Marcado pela ação divina na história, o povo de Israel guardou na mente e no coração a memória dos fatos e das palavras pelas quais Deus se revelou a si mesmo e deu a conhecer o mistério da sua vontade, formando uma tradição que foi conservada e transmitida oralmente pelos mais velhos nas reuniões nas sinagogas.

Com o passar do tempo e a dispersão do povo, surge a necessidade de zelar pela fidelidade do conteúdo revelado. Através da prática da escrita em papiros e pergaminhos, a revelação divina conservou-se imutável ao longo dos séculos. Ensina o Concílio Vaticano II que “Deus dispôs amorosamente que permanecesse integro e fosse transmitido a todas as gerações tudo quanto tinha revelado para salvação de todos os povos” (Dei Verbum, 7).

A Igreja, na herança de Israel e cumprindo a ordem de pregar a todos o Evangelho, guardou com fidelidade “aquilo que tinha recebido dos lábios, convivência e obras de Cristo, e o que tinha aprendido por inspiração do Espírito Santo, como por aqueles Apóstolos e varões apostólicos que, sob a inspiração do mesmo Espírito Santo, escreveram a mensagem da salvação” (idem).

Se hoje é possível termos em mãos o livro da bíblia, é devido ao trabalho incessante da Igreja em copiar e guardar os pergaminhos dos textos sagrados que, inspirados por Deus, transmitem a verdade revelada, fonte de salvação de toda a humanidade.

A Igreja Católica, no exercício do Magistério, foi quem conservou e decretou o cânon dos livros que compõem a bíblia; o que ocorreu somente no final do século 4 sendo confirmada e definida a lista completa no Concílio de Trento (século 16).

Em suma, a sagrada tradição e a Sagrada Escritura constituem um só e mesmo depósito da palavra de Deus, confiado à Igreja. E acrescenta o Concílio: “o encargo de interpretar autenticamente a palavra de Deus escrita ou contida na tradição, foi confiado só ao magistério vivo da Igreja, cuja autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo” (Dei Verbum, 10).

Assim, a experiência de fé de um povo na sua relação com Deus reuniu diversos livros inspirados, a que chamamos bíblia. Consequentemente, sua interpretação está submetida à tutela da Igreja que, por mandado divino e com a assistência do Santo Espírito, transmite fielmente a palavra de Deus.

Se a Bíblia foi conservada assim, é porque nela a comunidade eclesial encontra sua identidade esboçada. A Sagrada Escritura é, por assim dizer, testemunha fiel do valor que a Igreja atribui à tradição e à cultura para a formação da identidade de um povo. Que o cuidado da Igreja com as sagradas escrituras e demais símbolos que expressam a experiência de fé através dos séculos, sirva de inspiração para todos os que têm o dever de conservar a história e a cultura do povo brasileiro. 

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Dom Edney Gouvêa Mattoso

A Voz do Pastor

Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.

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