Educar para o bem

terça-feira, 09 de outubro de 2018

Caros amigos, no próximo dia 15 comemoramos o dia dos professores. Neste ensejo, cabe-nos refletir sobre as preocupações e esperanças destes profissionais ao enfrentarem o desafio, pessoal e social, da educação. Recentemente, circulou na grande mídia mais um relato de agressão a um professor em sala de aula. Este fato é uma evidência de que o ambiente escolar tem se tornado cada vez mais hostil. Conforme dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), a cada três dias, um professor é ameaçado dentro de escolas no estado do Rio (cf. O Globo, 15 jul. 2018). Já no estado de São Paulo, neste ano, a Secretaria de Educação contabilizou um aumento de 189% nos casos de agressão a docentes (cf. Folha de São Paulo, 02 ago. 2018).

Uma pesquisa global da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico revela que o Brasil ocupa o topo no ranking de violência em escolas (cf. G1, 22 ago. 2017). Diante desta assustadora realidade, é preciso identificar a fonte da desvalorização do sistema educacional, para a partir deste dado propor soluções eficazes. Um olhar atento identifica a invasão de práticas ideológicas e partidárias nas escolas, descontruindo valores importantes para o sadio relacionamento social. O relativismo disfarçado de liberdade de pensamento instaura uma guerra de interesses transformando as escolas num verdadeiro campo de batalha, onde não tem lugar o mútuo respeito.

Num tempo de crise cultural como o nosso, se faz necessária uma intensa atividade educativa e um correspondente empenho por parte de todos. A prática educacional não pode ser lesada a fim de satisfazer interesses políticos e ideológicos. Ela deve prevalecer sobre toda tentativa de relativizar a verdade e os valores que contribuem para a formação integral da pessoa.

O empenho social e político do fiel leigo deve garantir o acesso de todos a uma cultura humana e civil conveniente à dignidade da pessoa humana, sem discriminação de raça, sexo, nação, religião (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 557).

O Papa Francisco, ao refletir sobre a influência que os modelos de pensamento têm sobre o comportamento humano, ilumina nossa reflexão quando diz que “a educação será ineficaz e os seus esforços estéreis, se não se preocupar também por difundir um novo modelo relativo ao ser humano, à vida, à sociedade e à relação com a natureza” (Laudato Si, 215).

A instrumentalização da educação, movida por concepções antropológicas enraizadas no materialismo, consumismo e individualismo transformou a escola em fábrica de cidadãos desprovidos de uma visão mais ampla de mundo, da própria realidade e dos valores humanos que garantem a convivência, além de relegar ao segundo plano a formação integral do ser humano.

O Santo Padre denuncia ainda a ação dos intelectuais críticos à educação familiar, que de todos os modos tentam anular a participação dos pais na formação de seus próprios filhos. Afirma o pontífice que esta ação faz abrir “uma ruptura entre família e sociedade, entre família e escola; hoje o pacto educativo interrompeu-se; e assim, a aliança educativa da sociedade com a família entrou em crise, porque foi minada a confiança recíproca” (Audiência Geral, 20 mai. 2015).

É urgente crescer em nós a consciência de que a educação deve estar a serviço de toda a comunidade humana, fundada na confiança mútua e na reciprocidade dos deveres. “A educação familiar é a coluna vertebral do humanismo” (idem). Por isso, toda instituição com a obrigação de formar crianças e jovens deve respeitar a família como a primeira sociedade natural, observando a ordem da subsidiariedade e mútuo diálogo.

O primeiro passo para mudarmos esta trágica realidade é a retomada de uma educação humanizada. Esta não é uma tarefa apenas dos profissionais da educação, é um empenho de todos! O combate à violência se constrói sobre as bases sólidas de uma educação transformadora, que cuida, sobretudo, de preservar e promover as capacidades pessoais, morais e sociais dos participantes no processo educativo, expandindo o perímetro da própria sala de aula a cada âmbito em que a educação pode gerar solidariedade, partilha, comunhão (cf. Educar ao humanismo solidário, 10).

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Dom Edney Gouvêa Mattoso

A Voz do Pastor

Buscando trazer uma palavra de paz e evangelização para a população de Nova Friburgo, o bispo diocesano da cidade, Dom Edney Gouvêa Mattoso, assina a coluna A Voz do Pastor, todas as terças, no A VOZ DA SERRA.

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